quarta-feira, 2 de outubro de 2019

5 coisas que aprendi ao me tornar vegetariana


Talvez nem todos que acessam o blog saibam, mas sou vegetariana há 3 anos e apesar de ainda não ter feito nenhum post sobre as razões que me levaram a essa decisão, hoje eu gostaria de falar sobre as coisas que eu aprendi nesse período "veg". Como ontem foi o dia mundial do vegetarianismo, achei oportuno escrever agora!

Vamos lá!

1) Se não quero que me "encham o saco", não "encho o saco" dos outros: esse foi um dos meus princípios ao me tornar vegetariana. Sempre quis que fosse algo tranquilo para mim e também para os demais. Eu não quero que fiquem me oferecendo carnes ou fazendo piadinhas bobas (embora isso possa acontecer). Sendo assim, não interfiro na opção alimentar dos outros, não tento "forçar" nenhum comportamento. Na verdade, geralmente pensam que nutricionista é fiscal do prato alheio, que fica reparando o tempo todo no que os outros comem. Às vezes podemos até reparar, mas dar pitaco é diferente! Se me perguntam algo, aí respondo. Em vez de "me meter" na alimentação dos outros, o que eu procuro fazer é mostrar por meio das minhas comidas que ser vegetariano não é difícil, não é caro e que temos uma ampla variedade de alimentos disponíveis!

2) Cozinhar vale a pena e é prazeroso: já gostava de cozinhar antes de me tornar vegetariana, no entanto, é fato que eu passei a cozinhar e a me aventurar muito mais depois da mudança do estilo de alimentação. Como sempre falo, se a gente, sempre que possível, prepara as próprias refeições, comemos de forma mais saudável/nutritiva, sabemos os ingredientes que estamos usando, assim evitamos o consumo de produtos prontos e ultraprocessados (já leu meu mais recente post sobre o tema? Clique AQUI!). Adoro testar novas receitas veg e isso, muitas vezes, funciona como uma terapia pra mim, pois me ajuda a controlar a ansiedade e vejo como uma forma de autocuidado. É claro que nem sempre consigo fazer grandes preparações. No dia a dia acabo optando por refeições mais simples e deixo os pratos mais elaborados para dias de empolgação/mais tempo disponível!

3) Não posso esperar que os outros sempre lembrem que sou veg e façam algo pra mim: essa parece meio dura, não? De não confiar na humanidade (hahaha) e tal, porém é #truestory. Várias pessoas falam que não conseguiriam ser veg por causa da vida social, eventos com amigos ou com a família, afinal "nunca" vai ter opção pra comer. Sim, um dia também já pensei isso e a real é que a gente se adapta. Dependendo do lugar que vou, se é com família/amigos, procuro levar alguma preparação. Não é só pra mim, levo para compartilhar com todos. Por exemplo, em vários churrascos de família eu levei uma saladona com grão-de-bico (uma das boas fontes proteicas pra gente!) e despertou a curiosidade daqueles que nunca tinham comido o grão ou não em forma de salada. Às vezes pedem receitas, perguntam as propriedades do alimento... Sempre é positivo! Por outro lado, já estive em vários ambientes para os quais não levei nada e as pessoas lembraram que sou veg. Uma bela surpresa! Certa vez, prepararam uma feijoada vegana para mim! Para alguns esse "mundo" (que não é nenhum monstro) é totalmente novo, então não dá pra esperar isso sempre. Mas quando acontece é muito legal! :)

4) Não preciso deixar de comer aquilo que comia antes de ser veg: frases como "ah, se eu virar veg não vou comer mais as coisas que eu gosto, como strogonoff, hambúrguer, cachorro quente..." são comuns. E novamente, a gente se adapta. Todas essas preparações que citei no exemplo podem ser feitas em versões veg. O strogonoff pode ser feito com grão-de-bico ou proteína de soja, hambúrguer pode ser feito com feijão, de novo o grão-de-bico e a proteína de soja, quinoa, ervilha, cogumelos ou ainda vegetais como brócolis e berinjela, o cachorro quente pode ser feito da mesma maneira tradicional, só que sem a salsicha (ou para eventualidades há salsichas vegetais, que são ultraprocessadas como as tradicionais, então não recomendaria o consumo frequente!). Pelo menos pra mim, a graça do cachorro quente sempre foi o pão com o molho e não a salsicha! Aí entramos em ter ou não o sabor de carne. O que eu penso: são alimentos diferentes, logo, vão ter sabores diferentes! Eu, Tássia, não ligo em ter ou não ter sabor de carne, até porque quando parei de comer andava bem enjoada do sabor! A ideia não é que as comidas fiquem "iguais", contudo, que você possa continuar comendo o que comia, principalmente pelo papel "afetivo" da alimentação.

5) Com gentileza e o famoso "jeitinho", posso pedir algo pra comer onde há pouca ou nenhuma opção: com o crescimento do vegetarianismo, já podemos encontrar opções vegetarianas/veganas em muitos restaurantes por aí. Já é um progresso, embora ainda tenhamos bastante caminho pela frente até realmente haver adesão. Quase todo lugar que eu já fui (até em viagens!), tive opção para comer, apesar de às vezes não estar caracterizado como veg. Exemplos: uma salada com grãos, algum bolinho, uma batata assada com ervas (às vezes frita porque nutricionista também é ser humano, taokei?). Quando não tem, ou eu procuro outro lugar ou eu tento conversar com funcionários do local para saber se pode ter adaptação de algum prato. Isso sempre com gentileza e educação! Sei que há quem pense se não vão te sabotar. É um risco? É. Entretanto, o que seria da vida sem se arriscar, não é mesmo? Fora que a pessoa tem que ser de muita má fé pra sabotar algo que foi pedido com educação. Enfim... Mais um exemplo: já fui em lanchonete (de fast food mesmo!), que tiraram a única opção veg que havia no cardápio. Perguntei se podiam montar um xis (para quem não é do Rio Grande do Sul, é como um hambúrguer, só que em um pão maior e prensado) sem a adição de qualquer tipo de carne e eles fizeram. 

As coisas que lembrei mais "de cara" foram essas cinco e são as que eu mais tenho que lidar na minha rotina. Há alguns anos, escrevi um post sobre alimentação vegetariana com respostas às principais dúvidas sobre o assunto. Se você ainda não leu, pode encontrar o post AQUI.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A polêmica do hambúrguer à base de plantas com sabor de carne

A polêmica

Provavelmente você ficou sabendo da mais recente polêmica que começou com um tweet da chef Paola Carosella, do Masterchef, dizendo que havia provado um famoso hambúrguer à base de plantas com sabor/textura de carne. Este é o tweet:


Muita gente que leu apenas essa parte viu como uma crítica ao vegetarianismo/veganismo. Porém, se você for ler a sequência de posts, conseguirá entender que, na verdade, foi uma crítica às indústrias alimentícias e ao consumo exagerado de ultraprocessados (já falaremos melhor sobre isso) e isso não necessariamente está ligado a ser vegetariano. Com o crescimento do vegetarianismo/veganismo, o lançamento de produtos como o tal hambúrguer poderia ser um oportunismo das indústrias e não uma real preocupação com esse público e com a saúde do mesmo. Um dos outros tweets que Paola escreveu foi o seguinte:


Após esse tweet, fui ler os comentários! E lá estavam as mais diversas opiniões: gente dizendo que se gosta de carne "não tem razão" para parar o consumo, gente dizendo que tem dificuldade de se tornar vegetariana porque gosta do sabor da carne e um produto com "gosto e textura similares" poderiam ser uma alternativa... Aqui nós poderíamos entrar em uma super discussão sobre "meu" bem-estar x bem-estar animal. Ou seja, para satisfazer o "meu" paladar em alguns minutos de refeição custa a vida de outro ser (fora impactos ambientais que precisam ser refletidos e já não é só o "meu" bem-estar em jogo e sim o bem-estar coletivo). A proposta para hoje não é essa. 

Eu realmente vejo pessoas que gostariam de ser vegetarianas ou ao menos diminuírem o consumo de carnes, porém, não me parece muito inteligente começar a comer um produto industrializado como forma de transição.  E, claro, como nutricionista é "fácil" falar isso, pois tenho o conhecimento técnico. Por outro lado, o consumidor geralmente não tem e pode se enganar (a indústria sabe bem como fazer isso!). Especificamente no caso do hambúrguer que gerou a discussão, um pacote com 2 unidades custa em torno de R$ 20,00. Se a pessoa pretende consumir isso todos os dias, é nítido que vai se tornar cara a alimentação. Quem fala que "ser vegetariano é caro" tende a imaginar os gastos de uma rotina alimentar à base de industrializados, quando o ideal é que a base seja de alimentos in natura ou minimamente processados, seja a pessoa vegetariana/vegana ou não (já vamos chegar nesses conceitos!).

O hambúrguer

Vamos ver a composição do hambúrguer de plantas? Destaco que não posso mencionar a marca por questões do Código de Ética dos nutricionistas.



O problema começa ao chegar na gordura vegetal. O quão natural te parece um "condimento preparado sabor carne"? O que é estabilizante metilcelulose? Se você não sabe dizer o que são vários dos ingredientes da lista, você acredita que o produto seja saudável/nutritivo?

Ainda não provei o hambúrguer e apesar da Paola dizer que não achou com gosto  de carne, vi algumas pessoas, inclusive colegas, dizendo o contrário sobre o sabor e a textura. Eu pensaria em preparar meu próprio hambúrguer em casa, que é o que de fato faço. Mas eu, que sou vegetariana há 3 anos, não me importo em ter ou não gosto de carne. Para quem se importa e quer mudar seu hábito alimentar, talvez fosse mais viável reduzir gradativamente o consumo de carnes (na minha opinião, mudar alguma coisa já é melhor do que nenhuma mudança!) e se quiser comer esse tipo de produto, que seja o mais esporádico possível.

Afinal, o que são os alimentos ultraprocessados?

Em 2010, o professor e pesquisador brasileiro Carlos Augusto Monteiro, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS-USP), e sua equipe publicaram o primeiro artigo com a classificação NOVA, que divide os alimentos em grupos pelo seu grau de processamento. Até então não havia um consenso sobre uma nomenclatura ideal para alimentos industrializados e a classificação do professor Monteiro alertou para o seu consumo e acabou comprando uma certa briga com as indústrias. O mais recente Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado pelo Ministério da Saúde em 2014 inclui a classificação NOVA como orientação para uma alimentação saudável (clique AQUI para ver o guia na íntegra).

A classificação NOVA divide os alimentos da seguinte maneira:

Grupo 1 - Alimentos in natura ou minimamente processados: são considerados alimentos in natura aqueles obtidos diretamente de plantas (sementes, frutos, folhas, raízes...) ou de animais (ovos, leite, carne) e que não passam por qualquer tipo de alteração depois que deixam a natureza. Enquanto que os alimentos minimamente processados são também in natura, mas são submetidos a pequenas alterações. A recomendação é de que a base da alimentação seja deste grupo!

* Exemplos de alimentos in natura ou minimamente processados: frutas, verduras, legumes, mandioca e outras raízes e tubérculos, arroz branco ou integral, feijões de todas as cores, lentilha, grão-de-bico, cogumelos secos ou frescos, frutas secas sem adição de açúcar, oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas...) sem adição de sal, açúcar ou óleo, ervas secas ou frescas, cravo, canela e outras especiarias, carnes (sem ser embutidas), ovos, leite pasturizado ou em pó, iogurtes naturais sem adição de açúcar, chá, café, água potável.

Grupo 2 - Ingredientes culinários processados: aqui estão aqueles itens que comumente são usados para temperar e cozinhar os alimentos, além de fazer preparações culinárias. Podem ser obtidos por alimentos do primeiro grupo e passam por alguns processos como prensagem, moagem, refino... Recomenda-se o uso de pequenas quantidades para temperar, cozinhar ou criar preparações.

* Exemplos de ingredientes culinários processados: sal, açúcar refinado, demerara, mascavo e óleos/gorduras (óleos em geral, como de soja, de milho, azeite de oliva e também manteiga, creme de leite, banha...).

Grupo 3 - Alimentos processados: são aqueles alimentos fabricados com adição de sal ou açúcar em alimentos in natura ou minimamente processado. A recomendação também é de pequenas quantidades desses alimentos, justamente por causa da adição do sal ou do açúcar.

* Exemplos de alimentos processados: alimentos em conserva (cebola, pepino, palmito, milho...), extrato ou concentrados de tomate com sal e/ou açúcar, frutas em calda, frutas cristalizadas, enlatados como atum ou sardinha, queijos, pães feitos com farinha de trigo, levedura, água e sal.

Grupo 4 - Alimentos ultraprocessados: estão neste grupo aqueles produtos que possuem diversos ingredientes e cuja fabircação depende de várias etapas e técnicas de processamento em escala industrial. A recomendação é que se evite os itens ultraprocessados, pois costumam ser nutricionalmente ruins pelo excesso de gorduras, açúcar, sal e aditivos químicos.

* Exemplos de alimentos ultraprocessados: biscoitos recheados, salgadinhos "de pacote", macarrão instantâneo, lasanhas/pizzas congeladas, cereais açucarados, mistura para bolo, bebidas lácteas adoçadas, refrigerantes, salsichas e outros embutidos, nuggets, outros produtos que contenham gordura vegetal hidrogenada, emulsificantes e outros aditivos.

A classificação é simples, mas se ainda está confuso, vamos desenhar:

Foto: Guia Alimentar para a População Brasileira

Depois dessa explicação dos grupos propostos pela NOVA, onde podemos encaixar o hambúrguer de plantas? No grupo dos ultraprocessados! E olha só: é muito fácil ser enganado pela publicidade da indústria sobre "vantagens" de seus produtos comparados a produtos tradicionais. Por exemplo, dizeres  como "menos calorias", "menos sódio", "menos gordura", "adicionado de vitaminas e minerais" e, com aumento do vegetarianismo, também as palavras "plant-based" (feito de plantas) e "vegano". Se você levar em consideração apenas isso, acabará acreditando que está consumindo um produto melhor, mais saudável. No entanto, diante desse conhecimento da diferença dos grupos alimentares conforme seu processamento, o ideal é que você passe a consumir menos produtos prontos.

Estamos em um mundo "moderno", com a vida corrida e temos acesso a diversas facilidades. Hoje já podemos até fazer compras no supermercado sem sair de casa por apps, gente! Mas não dá para buscar apenas a praticidade dos industrializados (especialmente os ultraprocessados) o tempo todo, ainda mais se quisermos levar uma vida com qualidade e prevenir doenças. Quando for "preciso" comprar algo, que você passe a explorar a embalagem, lendo a lista de ingredientes dos produtos. E isso eu já falo há tempos no blog (tem post sobre isso AQUI).

A indústria e o "boom" vegetariano

Depois da polêmica, vi algumas pessoas compartilhando no Twitter um texto do jornal El País, escrito pela nutricionista espanhola Lucía Martínez. Apesar de ser de 2018, veio em boa hora para discutir essas questões do oportunismo da indústria diante do crescimento dos adeptos de alimentação vegetariana (tem post sobre as diferenças AQUI).

O texto mostra que o acesso a produtos com selo vegano está mais fácil e que em supermercados podemos encontrar corredores cheios de bebidas vegetais (leite de amêndoas, soja, coco...), iogurtes à base de soja, hambúrguer e salsicha vegetais etc. E o que parece uma boa notícia, na verdade não é tão boa assim, porque, "a indústria alimentícia está aproveitando a conotação saudável que envolve o vegano para nos vender os ingredientes mais baratos e menos saudáveis".

O mais interessante no texto de Lúcía no El País é que ela mostra que, se não houver um planejamento adequado, é muito fácil ter uma alimentação sem produtos de origem animal baseada somente em ultraprocessados. Tem até um exemplo de um cardápio de um dia 100% vegano onde o produto mais saudável é o café. Para ver, clique AQUI.

Qual o problema dos ultraprocessados?

O ideal seria nem precisar explicar que se o alimento sofreu um grande processamento até ser embalado e contém uma série de aditivos químicos em sua composição não parece ser tão bom para a saúde, né? Isso sem contar a parte das embalagens, que geram mais lixo para o planeta. De qualquer forma, depois da classificação NOVA, os ultraprocessados têm sido tema de diversos estudos científicos, principalmente para verificar a associação com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

Recentemente, a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) lançou um documento oficial sobre ultraprocessados, qualidade da dieta e saúde usando o sistema NOVA, organizado pelo professor Monteiro e equipe. Um dos conteúdos do documento, que está em inglês e pode ser visto AQUI, é uma tabela que agrupa em sete páginas as características e os resultados de estudos realizados até o momento sobre o consumo de ultraprocessados e as DCNT. Nessa tabela podemos ver que vários estudos encontraram associação entre maior consumo desse tipo de produto e aumento da circunferência da cintura, ganho de peso, doenças cardiovasculares, depressão, entre outros.

Embora o intuito do post não seja dar uma aula de metodologia científica/Epidemiologia, é importante dizer que encontrar uma associação não significa que há uma relação causal entre uma coisa e outra, dependendo do tipo de estudo que foi realizado. Neste caso, não significa que os ultraprocessados "causam" tudo isso que foi citado no parágrafo anterior, até porque os estudos sobre o assunto são relativamente recentes, então ainda é preciso explorar. Mas os resultados são essenciais como alerta para uma alimentação o mais natural possível!

A melhor forma de saber o que estamos consumindo é, sempre que possível, preparar as próprias refeições! Vejo o ato de cozinhar como necessidade, autocuidado e cuidado com os que te cercam e, além de economizar, é uma forma de reduzir o consumo de ultraprocessados. Já tem até estudo mostrando isso e pretendo fazer um outro post sobre o tema em breve! Como dizem por aí: descasque mais e desembale menos!! 


Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf (Acesso em setembro de 2019)

Monteiro C.A., Cannon G., Levy R.B. NOVA. The star shines bright. World Nutr. 2016;7(1–3):28–38

Monteiro, C.A., Cannon, G., Lawrence, M., Costa Louzada, M.L. and Pereira Machado, P. Ultra-processed foods, diet quality, and health using the NOVA classification system. Rome: FAO, 2019. Em: http://www.fao.org/3/ca5644en/ca5644en.pdf (Acesso em setembro de 2019)

Monteiro, C.A., Levy, R.B., Claro, R.M., Castro, I.R.R. & Cannon, G. A new classification of foods based on the extent and purpose of food processing. Cadernos de Saúde Pública, 2010; 26(11):2039-2049.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Comer de 3 em 3 horas? Jejum intermitente? E agora, nutri?



Acho que desde que comecei a ler e a entender mais sobre alimentação e nutrição, antes mesmo de ingressar na faculdade, já encontrava por aí a informação de que "devemos comer de 3 em 3 horas". E até hoje, mesmo com tantas coisas novas (e decentes) dentro do mundo da nutrição, algumas pessoas acreditam que precisam comer nesse intervalo, não importa o quê, não importa onde, não importam sinais de fome que o nosso próprio organismo dá.

Eu desconheço qualquer evidência científica que afirme que esse é o "intervalo ideal" de horas para comer. Sempre fiquei me questionando, por exemplo, se eu almoço meio-dia, aí lá pelas 15 horas estaria na hora de comer de novo, porém, se eu estiver no meio de um atendimento, no trânsito, em uma consulta médica ou qualquer outra demanda da vida moderna e só consigo parar 15h30 ou 16 horas... O que vai acontecer? Meu metabolismo imediatamente "buga"? Ora, não é assim que funciona. 

Todo ser humano tem uma necessidade de consumo alimentar que leva em consideração pelo menos o metabolismo basal (mínimo necessário para garantir a nossa sobrevivência para funções básicas do organismo em repouso, como controle da temperatura corporal, batimentos cardíacos etc) e o nível de atividade física. Beleza. Mas eu preciso comer mesmo sem fome? Aí que começamos a entrar em outro ponto, tão falado nos últimos tempos dentro da nutrição comportamental, que é essa percepção dos sinais que o nosso corpo dá. É fome? É vontade de comer? Já estou saciado?

Um problema para algumas pessoas nessa rotina de comer a cada 3 horas é ter que carregar refeições consigo, em especial as intermediárias ("lanches"). Independentemente de comer ou não nesse intervalo, considero interessante, sim, preparar e levar algumas refeições comigo, já que sei exatamente o que estou comendo (ingredientes, higiene na hora do preparo...), economizo em refeições na rua e, na hora de um aperto, por exemplo se eu for demorar a voltar pra casa e tiver fome, tenho algo nutritivo em mãos e não preciso apelar para itens com calorias vazias na rua (lanches de padaria, industrializados como biscoitos ou bolachas...). Ainda assim, esse esquema de andar com as famosas marmitinhas pode ser mais um "problema" na vida da pessoa, pois pode fazer com que esta fique pensando em comida o tempo todo (porque "tem" que cuidar a hora no relógio para comer de novo).

Para fazer um contraponto, não podemos esquecer que também tem se falado muito em "jejum intermitente. Sim, existem algumas evidências interessantes sobre o tema, sendo um dos protocolos mais utilizados o 16/8, ou seja, são 16 horas de jejum e nas 8 horas restantes seriam feitas entre 2 e 3 refeições. Na prática seria assim: almoço meio-dia, mais uma ou duas refeições nas próximas horas, sendo uma delas o jantar em torno das 20 horas. Jejum das 20 horas até o meio-dia do dia seguinte e recomeça o processo. Mas alto lá! Não pense que nessas refeições você pode comer qualquer coisa, "se jogar" em fast food, achando que vai compensar depois pelo jejum. Pelo contrário: nessas 8 horas restantes, quanto mais nutritivas as refeições, melhor! Afinal, é isso que, além de fornecer os nutrientes que o seu corpo precisa, vai te manter saciado durante o período de jejum. Um pensamento comum é achar que se fizer jejum vai morrer de fome, mas se fizer da forma certa, a tendência é que não passe. São incluídos frutas, legumes e verduras, fontes de carboidratos como batata-doce, aipim, cará ou inhame, gorduras como azeite e oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas...) e fontes proteicas (vegetais ou animais, conforme cada caso).

Por mais que possamos encontrar evidências boas, não quer dizer que o método do jejum seja aplicável para TODA E QUALQUER PESSOA, mesmo que bem orientado. Até porque eu também desconheço evidência que diga que jejum é superior à restrição calórica quando se fala em emagrecimento. E aqui eu não falo de restrições malucas, não, e sim daquela coisa básica que acho que todo mundo sabe: comer menos do que gasta, por meio de uma redução adequada de calorias e substituição de alimentos não tão nutritivos por outros de maior qualidade. 

Sabe por que o jejum não é "bom para todo mundo"? Porque temos que avaliar quem é o paciente que está na nossa frente. Vamos imaginar uma pessoa que come bastante ao longo do dia. Não é compulsão alimentar (um comer impulsivo, com sensação de descontrole em um curto período de tempo). Esse paciente chega para uma consulta com o nutricionista, que, antenado nas evidências, prescreve o jejum. Qual a adesão que esse paciente vai ter com o tratamento? Pode ser que dê certo, no entanto, pelo que conheço das pessoas e suas dificuldades de mudar o comportamento alimentar (que não é fácil mesmo, gente!), é bem possível que a pessoa desista de tudo, não retorne ao nutricionista e volte a comer como antes. Isso não é bom para o profissional, que não conseguiu ajudar um ser humano que buscou auxílio, e nem para o paciente, que não teve sucesso na mudança de hábitos.

Do mesmo modo, o comer a cada 3 horas pode não ser a melhor estratégia para todos. Sabe aquele tipo de pessoa que refere que "esquece" de comer? Eu sempre brinco que não entendo como alguém consegue esquecer de COMER (hahaha), mas em atendimento é mais comum do que você pensa. E se o nutri orientar, quase que "obrigando", a pessoa a comer de tanto em tanto tempo (que pode não ser necessariamente a cada 3 horas), a história se repete: paciente desiste e o profissional não conseguiu ajudar aquela pessoa. Neste caso, é melhor orientar bem sobre fome, vontade de comer e saciedade, que pode haver essa flexibilidade de horários. Comer quando tem fome, parar quando está saciado. Parece simples, embora perceba que as pessoas não sabem reconhecer direito esses sinais. É autoconhecimento, é prestar mais atenção no momento das refeições.

Então, qual a melhor rotina alimentar? Sei que isso desaponta muita gente, contudo, em nutrição a resposta para váaaaarias questões é: DEPENDE! Assim como outros colegas, acredito que o melhor tipo de alimentação é aquele que se encaixa nas suas preferências e na sua rotina, aquele que você consegue SEGUIR. Trabalhamos com evidências científicas, mas também temos que ter empatia, buscar humanizar o atendimento! É claro que em toda mudança de hábito em algum momento vai ser preciso abrir mão de certas coisas (cada escolha, uma renúncia, lei da vida!). Aí é preciso ver o quão motivado você está para essa mudança.

Se você tem acompanhamento com nutricionista, sempre converse com o profissional para que ambos cheguem a um consenso do que é melhor naquele momento! Se não tem, lembre-se que informações na internet ou métodos que funcionaram com outras pessoas podem não ser úteis para VOCÊ e não substituem uma consulta! 

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Receita: Bolo "Vulcão" de Cenoura

Domingo passado testei pela primeira vez o tal do "bolo vulcão". Fiz de cenoura e adorei! Deu super certo! Postei no Instagram (me segue lá: @nutritassia) um vídeo e alguns me pediram a receita. Ah, eu usei uma receita do blog Vita Nutrire como base. Como alterei algumas coisas, vou postar a que eu fiz, ok?

Foto: Gourmet a Dois
Como só fiz um vídeo, nada de fotos próprias =/

Ah, a receita tá certa, viu? Não tem ovos ou leite mesmo!

Ingredientes da massa:
- 2 xícaras (chá) de farinha de trigo (usei branca mesmo)
- 1 xícara e 1/2 (chá) de aveia em flocos (coloquei por conta)
- 1 cenoura grande picada
- 1 xícara (chá) de açúcar da sua preferência (uso demerara)
- 1/2 xícara (chá) de água
- 1/3 xícara (chá) de óleo da sua preferência
- 1 colher (café) de vinagre (usei de maçã)
- 1 pitada de sal
- 1 colher (sopa) de fermento químico em pó

Ingredientes da cobertura:
- 500 a 700 ml de leite vegetal (usei leite vegetal feito com pasta de amendoim - ver o preparo mais abaixo)
- 80 g de chocolate meio amargo ou outro da sua preferência (é o chocolate em pedaços mesmo, não em pó)
- 1 colher (sobremesa) de óleo de coco

Como preparar o leite vegetal: Bater 500 ml de água com duas colheres (sopa) cheias de pasta de amendoim no liquidificador até dissolver bem. Pronto! Não precisar coar nem nada! Não fica gosto marcante de amendoim na receita! ;) Pode usar qualquer outro leite.

Modo de preparo da massa: Peneirar a farinha de trigo e colocar numa tigela com a aveia. Reservar. No liquidificador, bater a água, o óleo, a cenoura e o açúcar até ficar homogêneo. Misturar o "creme" de cenoura com a farinha de trigo e a aveia. Adicionar o sal e o vinagre, mexendo bem. Por fim, colocar o fermento e mexer novamente. Levar a mistura ao forno preaquecido (nova regra ortográfica =*) a 180° em uma forma untada de furo no meio (estilo pudim) para não grudar por aproximadamente 50 minutos ou até espetar um palito e sair seco.

Modo de preparo da cobertura: Colocar em uma panela o leite, o chocolate e o óleo de coco e cozinhar em fogo baixo até começar a dar ponto de cobertura. Importante: como ela é totalmente vegetal, DEMORA para ficar no ponto certo! Não precisa mexer toda hora, mas fique de olho na panela. Vai reduzir de tamanho. Eu não deixei engrossar muito. Quando ela esfria sobre o bolo, fica mais cremosa.

Montagem: Deixar o bolo esfriar e depois "raspar" com uma faca nas laterais e na parte do furo até soltar bem da forma. Retirar e colocar em um prato ou travessa. Colocar a cobertura sobre o bolo, cobrindo bem o furo! Depois, é só cortar e ser feliz com seu bolo vulcão!

E aí, gostaram?

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Por que dietas restritivas não funcionam?



Sofia quer emagrecer e decidiu que agora vai tentar cortar “tudo o que engorda”. De manhã, mesmo morrendo de fome, não come nada afim de “economizar calorias” e também porque exagerou na noite anterior. No meio da manhã, a fome começa a apertar um pouco mais. Ela tira da bolsa uma barrinha de cereais, afinal disseram que é saudável. Hora do almoço! Parece ter um alien dentro do estômago de Sofia. Ela costuma comer no buffet por quilo, serve um grelhado (tem que ter proteína, né?) e uma salada, que se resume a duas folhas de alface e algumas rodelas de tomate. E era isso. Durante a tarde, hora do lanche! Ainda não teve fruta nesse dia, então bora comer... uma mísera maçã! Chega o fim do dia e a coitada da Sofia está com dor de cabeça e mau humor porque passou o dia apenas com um grelhado, uma salada e uma maçã. Chegando em casa, ela quer comer até as paredes do apartamento e, como também está cansada, resolve ligar para o delivery de comida, pede uma pizza (“só hoje não tem problema”) e um refrigerante zero. Diz ela que vai comer só duas fatias como jantar, mas a fome é tanta que acaba devorando a pizza inteira. Sente-se culpada e o ciclo de restrição-exagero se repete no dia seguinte.

Histórias como essa são bem comuns por aí. Isso vai levar a algum lugar? Vai trazer algum resultado? Não! E se trouxer, não vai ser duradouro, porque você tem duas opções: comer dessa forma para o resto da vida (haja persistência e saúde!) ou reeducar seus hábitos. Se dieta restritiva funcionasse de forma efetiva por que os números de sobrepeso e obesidade continuam crescendo? A base precisa ser mudada, a relação com os alimentos! Aprender a comer com atenção, perceber sinais de fome e saciedade, entender que o que prejudica o sucesso do seu emagrecimento não é o pão francês e nem um prato de arroz com feijão, mas sim o excesso de produtinhos congelados, diet e light, a falta de hábito de ir para a cozinha e fazer a própria refeição e comer aquilo que a sua avó reconheceria como comida! 

A restrição calórica é sinalizada em artigos científicos como necessária para o emagrecimento (bem como exercício físico e sono adequado), não de forma severa e sim aliada à adequação da qualidade dos alimentos e ao consumo de itens que proporcionem maior saciedade ao longo do dia! Claro que isso é só a pontinha do iceberg quando se fala em emagrecimento. Temos que levar em consideração aspectos genéticos, da microbiota intestinal, psicológicos, entre outros, para o manejo do sobrepeso e obesidade!

O nutricionista é o profissional que pode te acolher para ajudar nesse processo que não é fácil, mas é possível! Invista na sua saúde e bem-estar!

terça-feira, 16 de julho de 2019

"Virei vegetariano/vegano. Preciso de suplementação?"

A resposta é... DEPENDE! Embora alguns nutrientes mereçam atenção em pessoas vegetarianas/veganas, o que vai dizer mesmo se você precisa de suplementação é se você tem ou não uma alimentação variada (rica em vegetais, frutas, leguminosas, entre outros, e não aquela alimentação monótona à base de batata, arroz e macarrão que muitos têm), além da análise de exames bioquímicos e sinais e sintomas, como pintas nas unhas, queda de cabelo, cansaço excessivo... Isso, na verdade, vale também para quem não é vegetariano ou vegano!

Os nutrientes que eu mencionei que merecem atenção são ferro, cálcio, zinco, vitamina D e vitamina B12. Isso porque as maiores fontes, em geral, costumam ser de origem animal (carnes, ovos, leite e derivados), mas não quer dizer que uma pessoa vai ter deficiência apenas por isso. Até porque o reino vegetal é abundante em todos esses micronutrientes, EXCETO a vitamina B12, que é produzida por bactérias. Desta forma, torna-se importante o planejamento da rotina alimentar nesses pacientes por um nutricionista capacitado. Quer saber mais sobre alimentação vegetariana? Leia este post aqui!

A vitamina B12 é estocada no fígado, então, é possível passar meses ou anos com níveis ótimos nos exames. A deficiência de vitamina B12 pode ser comum mesmo em pessoas que comem carne e outros itens de origem animal, você sabia? Isso pode acontecer por má absorção, já que necessita do chamado fator intrínseco presente no estômago para tal. É por isso que aqueles que fazem cirurgia bariátrica costumam suplementar essa e outras vitaminas. De qualquer forma, o ideal é monitorá-la de tempos em tempos por meio de exames (leia mais sobre exames no acompanhamento nutricional clicando aqui) e, se necessário, realizar a suplementação com acompanhamento de nutricionista (apenas por via oral) ou médico (pode prescrever injetável). Vale destacar que deficiência de nutrientes se corrige com suplementação e não com alimentos, ok?

Você tem alguma dúvida sobre alimentação vegetariana? Manda nos comentários e lembre-se que nenhum post substitui uma consulta com nutricionista!

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Eurotrip da nutri: Experiências com Alimentação

Quem me acompanha no Instagram (segue lá: @nutritassia) sabe que estive recentemente na Europa, onde fiquei por 19 incríveis dias passando por Budapeste (Hungria), Bratislava (Eslováquia), Viena (Áustria), Praga (República Tcheca), Munique (Alemanha) e Roma (Itália). Compartilhei algumas das minhas refeições lá no perfil, mas quis escrever este post para contar com mais detalhes sobre a minha experiência.

Bom, pra início de conversa é importante dizer que eu não me importo com "grandes experiências gastronômicas" em uma viagem. Essa coisa de viajar para comer em restaurantes caros e famosos não tem muito a ver comigo. Então, isso ajuda a dar uma boa economizada. É claro que pode ter uma vez ou outra com gastos maiores com comida, mas prefiro gastar em alguns passeios, por exemplo, e simplesmente aproveitar cada momento. Isso não significa sobreviver à base de fast food, taokei?

Refeições a bordo

Foi a minha primeira viagem internacional após ter me tornado vegetariana, há 3 anos, portanto, já no voo de ida tive meu primeiro "causo" com alimentação. É possível escolher refeições especiais para voo internacional, vocês sabiam disso? Em geral, essas refeições especiais são classificadas em "dietas médicas" (aqui entram refeições para diabetes, com baixa caloria, com baixo colesterol, baixo sódio, sem lactose, ovolactovegetarianas e veganas, por exemplo), "religiosas" (refeições kosher, hindus e muçulmanas) e "para crianças" (de 0 a 24 meses e 2 a 12 anos, nessa última podendo incluir doces e hambúrgueres...). Apesar de eu não ser vegana e sim ovolactovegetariana, eu selecionei a opção vegana para minha refeição especial ao comprar a passagem, no site da companhia aérea (a minha foi a Alitalia). Pode ser por telefone também (em algumas companhias até por Twitter, como no caso da Alitalia), desde que com pelo menos 24h de antecedência do seu voo (não sei se o prazo é igual para todas as companhias).

Antes da viagem, já tinha lido relatos sobre erros na hora de servir a refeição especial nessa companhia aérea (veio camarão na refeição vegana #deuruim), no entanto, não tive problemas com as minhas em nenhum voo. Assim que o voo decola, um comissário vem confirmar se a tua refeição é especial. Na hora de servir, esse tipo de refeição é servida primeiro, então, é meio engraçado porque algumas pessoas ficam olhando tipo "por que essa pessoa é mais importante que recebe primeiro que os demais??", hahaha.

No voo de ida (foto abaixo), tive 2 refeições: o almoço e o café da manhã do dia seguinte. Tirei foto apenas do almoço, que tinha: hamburguinho de soja com molho de tomate (delicioso!), arroz integral, legumes cozidos, saladinha variada, frutas, homus, um pãozinho e uma barrinha de nuts. Vinha também azeite, sal e pimenta pra temperar. No café da manhã, que eu não tirei foto, veio um sanduíche com tofu e salada, frutas picadas, outro pãozinho, uma geleia, suco de laranja integral e café. Geralmente falam mal de comida de avião, mas eu gostei de tudo!

Almoço do dia 09/06 na companhia Alitalia
No voo de volta, também foram 2 refeições: o jantar e o café da manhã do dia seguinte, só que desta vez eu não tirei fotos de nenhuma delas. Veio mais ou menos no mesmo padrão e de novo mais equilibrado nutricionalmente do que as refeições "padrão" do voo. Só o café da manhã que veio um pouco diferente: em vez de pão veio um couscous marroquino com vegetais, um pudinzinho vegano à base de soja (tipo o brasileiro "Danette"), biscoitos de arroz, além de frutas, água e café. Tanto na ida quanto na volta, outras bebidas são oferecidas: outros sucos, refrigerante e vinho (tomei no jantar :D).

Ponto negativo: tudo vem com muito plástico, o que gera uma "lixaiada". Acredito que isso possa mudar com o tempo! Para as próximas aventuras, pretendo aderir aos talheres para viagem, que não são descartáveis. É só lavar e usar de novo depois!

Café da manhã durante a viagem

Não ficamos em hotel e sim em apartamentos do AirBnB. Todos eles têm cozinha, o que facilita a vida um bocado. A ideia obviamente não é ficar cozinhando, mas ter uma geladeira, fogão, micro-ondas e forno à disposição ajuda bastante a economizar em algumas refeições. No meu caso, em geral, foi o café da manhã. Todos os apartamentos tinham alguns itens à disposição, como chás, cafés, açúcar, sal, óleo...

Em todas as cidades que passei, fui a supermercados para conhecer (claro!!) e comprar alguns mantimentos. Fiquei encantada com a quantidade de produtos vegetarianos e veganos que existem na Europa! Tem de tudo: queijos, iogurtes, bebidas vegetais, bolinhos, congelados diversos... Eu sempre falo que não é legal depender só de industrializados, porém, comprei algumas coisas pra testar sim, já que aqui no Brasil não tem metade das coisas e quanto tem é mais caro que lá (chateada!). 

Na primeira cidade que eu fui (Budapeste), comprei um pacote de farelo de aveia que me acompanhou até Praga! Comprei justamente porque ia me durar uns bons dias e é super versátil: posso colocar no iogurte, fazer aveioca, sobre as frutas... Além disso, optei por iogurtes e frutas (banana ou cerejas fresquinhas!). Em alguns dias também tomei suco, comi pão integral... Sempre acompanhada de um bom café, né?

Em Praga, em um dia fomos a um restaurante/pub para um buffet de café da manhã "all you can eat" (o nosso popular buffet livre!!). Esse foi um dos poucos dias de "orgia gastronômica". Tinha de tudo: pães, bolos, croissants, frutas, vegetais, cereais, feijão (aquele que se come no café inglês típico!),  iogurtes, ovos, linguiça, bacon (pros que comem, hehe) e bebidas diversas (suco, café, água, leite). Comi o que tive vontade e isso incluiu croissants também, como você pode ver na foto abaixo! 

Segundo round no buffet livre de café da manhã!
Mini croissants, pão artesanal e café.
Local: Praga
Almoço e jantar durante a viagem

O almoço foi quase todos os dias na rua mesmo, afinal, turista ama bater perna! Eu não fiz muita pesquisa antes para ter referências de lugares com opções vegetarianas/veganas. Existe um aplicativo chamado Happy Cow, que por meio da sua localização te indica lugares veg, que nessa viagem não usei. Por onde passei, olhava os menus dos restaurantes e vários deles tinham essas opções e gostosas/porções decentes! Em apenas um dia, em Budapeste, que paramos em um restaurante que só tinha opção de entrada veggie e acabei tomando apenas uma sopa de shitake no almoço.


Segundo almoço na Europa: macarrão com molho de tomate, manjericão e queijo de cabra.
Acompanhando: uma cerveja tcheca (mas é na Hungria, hehe).
Local: Budapeste
Os restaurantes asiáticos são muito comuns na Europa, então me dei bem em restaurante chinês, vietnamita e tailandês porque todos sempre tinham pelo menos uma opção! Nesses lugares, o prato costumava ser tofu com molho (molho delicioso, bem apimentado como eu gosto!), arroz (era branco mesmo e tá ok!) e vegetais. Nunca comi tanto tofu na vida!

Um dos meus almoços em um restaurante tailandês: tofu com molho, arroz branco e saladinha!
Local: Bratislava
Novamente em Praga, fomos a um outro restaurante de buffet livre, só que para almoço e o restaurante era oriental. Me joguei, mais uma vez, em vegetais e tofu! Aqui também aproveitei os noodles (macarrão tipo "miojo") feitos de arroz. Uma delícia!

Em Munique, em 2 dias acabei comprando um saladão pronto e complementei com algum produto diferente do supermercado, como nuggets veganos. Adorei testar essas coisinhas!

O jantar não fugiu muito do padrão do almoço. Quase sempre foi na rua e em diversos dias também em restaurante oriental. Em uma ou duas vezes jantei hambúrguer veggie com batata frita e cerveja, e em um dia jantamos pizza "em casa" (de espinafre e marguerita). E por falar em cerveja, ela apareceu algumas (várias) vezes durante a viagem. Nutricionista também é ser humano, viu, gente?! :D

Sendo feliz com cerveja eslovaca e burguer vegetariano com fritas!
Local: Bratislava
Hidratação durante a viagem

Agora é verão na Europa e as temperaturas passavam fácil dos 30º C todos os dias. Água é fundamental sempre, e no calor nem se fala... Eu sempre andava com a minha garrafa de água na mochila.

Por sorte, em algumas cidades (Budapeste, Viena e Roma) havia lugar pra encher a garrafa com água fresca de novo ao longo do dia e de graça! Em Roma, inclusive tinha opção de água com gás em frente ao Coliseu! Achei demais!

Aquele tipo de foto que a Globo não mostra, totalmente espontânea haha
Local: Budapeste
Resumo de tudo: Tentei manter um certo equilíbrio nas refeições, sem deixar de aproveitar bebidas e algumas comidas que tive vontade (no calorão, acabou aparecendo até sorvete ou picolé em alguns dias também). Em Bratislava, tomei um sorvete vegano maravilhoso de castanha! Se você vai viajar, não precisa jogar tudo pro alto porque depois o "preju" é maior, mas também não precisa ficar se privando de provar preparações! Tenha bom senso e aproveite!!

Picolé pode SIM, gente!
Local: Viena

terça-feira, 4 de junho de 2019

Receita: Bolo de banana com farofa crocante



Essa semana anda bem nublada e chuvosa no Rio Grande do Sul. E eu pelo menos adoro um chá quentinho ou um café com bolo em dias assim. Um dos meus favoritos é o de banana e aproveitando que fazia um bom tempo que não preparava, vi o que tinha em casa pra preparar. Fui colocando e torcendo para dar certo, pois essa é uma versão que ainda não tinha feito.

É muito fácil de fazer e tem ingredientes fáceis de encontrar, sem muita invenção. Eu utilizei aveia em vez de outras farinhas e também fiz uma farofinha com castanhas e amêndoas.  Também não tem ingredientes de origem animal e açúcar no bolo: o doce fica por conta das bananas e das frutas secas. Só usei um pouco de açúcar para a farofinha, mas também não é extremamente necessário. Vamos à receita!

Ingredientes:
- 4 bananas médias (se estiverem maduras, mais docinho o bolo ficará)
- 2 xícaras de aveia ou farinha de aveia (eu usei aveia em flocos e bati no liquidificador pra ficar como farinha)
- 1 xícara de frutas secas da sua preferência, como uva passa ou tâmaras (usei uva passa preta e branca) ou pode usar açúcar mesmo (usaria demerara ou mascavo, nesse caso)
- 1/2 xícara de água morna ou leite da sua preferência
- 1/2 xícara de óleo da sua preferência (usei de coco)
- 1 colher (chá) de canela em pó (opcional)
- 1 colher (chá) de cravo em pó (opcional)
- 1 colher  e 1/2 (sopa) de fermento em pó (químico)

Para a farofinha:
- 2 colheres (sopa) de amêndoas
- 1 colher (sopa) de castanha do Brasil/Pará
- 1 colher (sopa) de açúcar demerara ou mascavo (opcional)

Modo de Preparo:
Amassar bem as bananas e reservar. Se utilizar frutas secas também, colocá-las no liquidificador e bater bem com a água morna ou leite até a consistência ficar tipo um purê. Em uma tigela, colocar as bananas já amassadas, a aveia, o "purê" de frutas secas, o óleo, a canela e o cravo em pó e misturar bem com uma colher. Por fim, adicionar o fermento em pó e mexer novamente. Colocar em uma forma de bolo inglês untada (eu uso só óleo mesmo) e colocar a farofa (para ela, basta triturar no liquidificador rapidamente as oleaginosas com o açúcar).  Levar ao forno previamente aquecido a 200° C por cerca de 50 minutos ou até dourar. Prontinho! Recomendo comer ainda quentinho! Delícia!

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Você conhece a Higiene do Sono?

Foto: Singularity Hub

Certamente, em algum momento, você já deve ter ouvido falar sobre 3 pilares para uma vida saudável: alimentação equilibrada + exercícios físicos + descanso. De comida e atividade física sempre se fala na mídia, mas o descanso às vezes não tem a atenção devida. E nesse sentido, o descanso pode se referir tanto ao(s) dia(s) de repouso do exercício físico para recuperação adequada da musculatura, bem como o sono mesmo (que também ajuda nesse contexto mais esportivo). 

De qualquer forma, quando se fala em sono por aí, se orienta dormir uma quantidade razoável de horas (variável, mas em geral de 7 a 9 horas para adultos) e bem. Mas e como fazer para ter uma boa noite de sono se hoje em dia a maioria de nós tem uma rotina cheia de coisas pra fazer? Pois bem, é aí que entra a "higiene do sono"! Este termo foi aplicado pela primeira vez dentro do contexto da Medicina do Sono por um psicólogo suíço chamado Peter Hauri (1933-2013), visando o tratamento da insônia, em seu livro sobre distúrbios de sono publicado em 1977.

A higiene do sono se refere a um conjunto de ações (para repetir diariamente) que têm como o objetivo melhorar as noites de sono. E pode reparar: quando dormimos mal, podemos ficar de mau humor, menos produtivos, cansados ou com menos disposição para exercícios físicos... Não é nada legal! Se o sono for ruim de forma crônica, poderá impactar ainda mais nas nossas tarefas e na nossa saúde! Assim, como a higiene do sono é uma estratégia comportamental, qualquer um pode fazer! É claro que se você tem problemas crônicos de sono, você deve procurar um médico, ok? Nenhuma dica de saúde substitui o acompanhamento profissional!

Esse conjunto de ações ganhou atualizações ao longo do tempo e as principais recomendações são as que você verá a seguir, com alguns breves comentários!

Recomendações da Higiene do Sono:

1) Ter uma rotina de horários para ir para a cama e para acordar (mesmo nos dias livres): ter horários muito diferentes poderia desregular o ritmo circadiano.

2) Exercitar-se preferencialmente durante o dia: temos evidência de que o exercício melhora a qualidade do sono, mas se feito à noite pode prejudicar o sono de algumas pessoas (ainda mais se atividade agitadas), então esse ponto acaba sendo bem individual;

3) Dormir em um ambiente sem barulhos e com temperatura adequada: se você mora perto de rodovias, aeroportos ou bares, às vezes é complicado seguir essa dica. Mas, se não é o seu caso, mantenha o ambiente sem barulhos! Sabe aquele relógio que você fica ouvindo o "tic-tac" o tempo todo? Já pode tirá-lo de vista!

4) Dormir em um ambiente escuro: a luminosidade da TV, celular e outros aparelhos eletrônicos pode prejudicar o sono. Então, o ideal é desligar o que for possível da tomada para não ficar aquele pontinho de luz e parar de usar o celular algum tempo antes de dormir para que a luz não te deixe alerta e impacte na sua noite de sono. Alguns profissionais recomendam nem ter TV no quarto, por exemplo!

6) Fazer refeições leves à noite: é importante não dormir com fome, mas também observar a quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos no período noturno. Alguns têm digestão mais lenta e podem "pesar" no estômago, atrapalhando o sono. Se você já tende a dormir mal, aí deve ficar mais alerta a esse ponto!

7) Evitar álcool: embora o álcool possa fazer você dormir mais rápido, parece prejudicar o sono ao longo da noite, com mais despertares, por exemplo, muitas vezes para urinar. Sempre bom lembrar que o excesso de álcool não é interessante para a saúde geral, né?

8) Evitar cafeína: enquanto para alguns a cafeína parece não fazer diferença (às vezes faz mesmo que você ache que não), outros costumam ser mais sensíveis aos seus efeitos. Se você é uma dessas pessoas, evitar café, chá preto e outros itens que possuam cafeína, em especial no período noturno, pode dar uma ajuda!

9) Evitar levar as preocupações para a cama: essa provavelmente é uma das mais difíceis de seguir, pois sei que quando estamos preocupados com algo é complicado tirar da cabeça! Mas não custa se esforçar na tentativa de relaxar, pensar em coisas mais leves antes de dormir. E aí isso pode ser acompanhado de algum ritual, como meditação ou orações, por exemplo.

10) Se não conseguir dormir, não forçar: esse é um item especialmente abordado na publicação original de 1977, que fala que alguns podem se sentir frustrados ao tentar dormir e não conseguir. E de fato, é chato ficar virando para um lado e para o outro e o sono não vir. Embora isso seja meio controverso, levantar e fazer alguma atividade leve pode auxiliar na chegada do sono (uma leitura, um pequeno alongamento...).

E aí, o que achou das orientações? Você segue alguma delas ou nem dá bola para isso?

Em breve, mais posts sobre o tema!

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

O que passar no pão?

Há alguns anos, postei sobre como escolher um bom pão integral. Se você não leu, clique aqui e leia antes de dar sequência! ;) Depois de saber sobre as escolhas do pão em si, também é bom ter conhecimento sobre o que colocar nele, certo?


Embutidos como presunto, salame, peito de peru e chester devem ser evitados pelo grau de processamento que passam. Contêm muito sódio e conservantes nada legais pra nossa saúde. Depois desses itens, algo que eu NÃO recomendaria passar é margarina, que também é um produto bem processado. E já que estou falando dela, certa vez me perguntaram sobre comer na rua e usarem margarina em alguma preparação. Olha, pode acontecer, mas como a ideia é não comer excessivamente na rua, o consumo seria muito eventual. Pensar em talvez não ter o hábito de comprar o produto já e um bom começo!

Ainda existem outras opções não tão interessantes, como maioneses, requeijão etc. Realmente também são itens industrializados e de composição "bem mais ou menos" (hehe), que não devem ser utilizados em excesso e com frequência. Porém, ainda acho piores os itens do parágrafo anterior.

Então... O que usar?

Se você gosta de doces:
- Geleias são boas opções. Se tiver açúcar e você for saudável não vejo como um grande problema, mas se puder ser sem e caseira, melhor ainda! As prontas costumam ser mais caras e receitas encontramos várias fáceis por aí!
- Pasta de amendoim ou oleaginosas: Não são exatamente doces (ao menos não deveriam, se puras), mas saciam pela quantidade de gordura "boa" e são gostosas também!

Se você gosta de salgado:
- Pastinhas em geral como tahine (pasta de gergelim) ou hommus (de grão-de-bico) têm proteína vegetal, fibras e são super fáceis de fazer (ingredientes baratos e duradouros);
- Outras pastinhas legais são de cenoura ou de berinjela (basicamente é cozinhar e bater no liquidificador com sal e temperos!);
- Manteiga de ervas feita com azeite de oliva e temperos: gorduras "boas" à vista! É só colocar o azeite em um pote ou forma de gelo com os seus temperos preferidos e levar ao freezer/geladeira.
- Queijos: para veganos, existem queijos sem nada de origem animal (caseiros ou não) e para quem não é vegano alguns queijos podem ser opção também (queijos brancos têm menos gordura e podem virar pastinhas também, como a ricota).
- Se for sanduíche: muitos vegetais sempre!

Em geral, essas são algumas opções que podem ser usadas por serem mais nutritivas. Vocês podem questionar sobre o preço de certos itens, mas vários não são caros, basta pesquisar bem e substituir supérfluos/pouco nutritivos. Sua saúde agradece!

Para ajustes individuais sempre converse com um nutricionista!