Se lidar com a alimentação de adultos nem sempre é fácil, que dirá da alimentação das crianças? Os pequenos tendem a não gostar de frutas e vegetais, e comem muitas bobagens, como doces, salgadinhos, etc. Mas, por mais que seja um pouco trabalhoso esse manejo, vale a pena, pois é na infância que a criança adquire certos hábitos. Logo, se ela aprende a se alimentar bem nessa fase, é provável que na vida adulta isso permaneça.
É importante ensinar bons hábitos alimentares ainda na infância |
Sempre tive preocupação e interesse sobre alimentação infantil e realizei um estágio diretamente com crianças na fase pré-escolar e escolar, o que me deixou ainda mais envolvida com o tema, pois precisava fazer trabalhos de Educação Alimentar com elas. Mas, na verdade, o que me motivou a escrever sobre isso foi a leitura de uma matéria na Revista Época, chamada Crianças 3 x 0 Comida (Abril/2012), onde mães contaram sobre a dificuldade de fazer os filhos comerem alimentos saudáveis. Uma delas contou que chegava a chorar escondido porque a filha não queria comer. Como dizia na matéria, algumas mães podem se sentir rejeitadas com esse tipo de atitude vinda dos filhos. Caso alguém queira ler a matéria completa, basta clicar aqui.
Nós, nutricionistas, temos que ter um lado de "psicólogo" também (trabalhar junto com um é o ideal), pois o emocional e a mente do paciente precisam estar bem para uma mudança adequada do comportamento alimentar. Com as crianças, isso não é diferente. E precisamos de muita criatividade para trabalhar com elas. Porém, os pais têm papel crucial nessa modificação de hábitos, independente de ter um nutricionista envolvido ou não.
Algumas atitudes muito comuns por parte da família são: fazer a criança comer "à força" algo que não goste, fazê-la comer tudo o que está no prato, não dar exemplo a ela, entre outras. Vamos a cada um desses pontos:
1) Fazer a criança comer "à força"
É claro que devemos incentivar o consumo de alimentos saudáveis às crianças, mas de forma gradual e não forçando, pois elas podem criar algum tipo de trauma, sentir que a alimentação é algo feio, por exemplo. Não é na primeira tentativa que vão gostar. Então, se tentou um alimento em um dia, no outro ofereça algo diferente. É importante ter esse estímulo com alimentos diferentes, assim como deve acontecer com adultos.
2) Fazer a criança comer tudo o que está no prato
Mais uma vez, a criança pode entender que a alimentação é algo feio. Muitas vezes, são até castigadas por não comerem o que está no prato. Ou ao contrário: ganham algum "mimo" quando comem tudo. Isso é correto? Não! Em nenhum dos casos. No caso de comer em troca de presentes, a criança pode começar a querer um presente toda vez que fizer alguma coisa solicitada pelos pais, não só a comida. A comida não deve ser um castigo e nem mesmo prêmio. Pode ser que a criança já esteja satisfeita com o que comeu, portanto, observe o quanto ele ingeriu. Incentive a comer um pouco mais, porém, de maneira gentil. Se a criança negar, não adianta insistir. Na próxima refeição, observe novamente e, se for o caso, converse com ela.
3) Não dar exemplo
Como é que você vai incentivar o seu filho a comer frutas, vegetais e outros alimentos saudáveis se você mesmo não come? Você tem que ser um exemplo. Sempre que possível, oferte diferentes alimentos à mesa na hora das refeições. Quanto mais colorido, melhor, pois isso costuma atrair as crianças. Ofereça um pouco a elas, mas é importante que você também coma! Caso não goste de alguma coisa servida, pelo menos disfarce para que ela não perceba, senão ela já vai saber que "é ruim". Já se você gosta, faça elogios ao alimento, diga que é gostoso, sorria. Assim, mais cedo ou mais tarde, ela vai querer experimentar.
Assim como citado nos posts anteriores do blog, moderação é a palavra-chave! Você não precisa excluir todas as guloseimas da alimentação da garotada. Porém, oferte com pouca frequência e observe as porções, já que o excesso pode levar ao ganho de peso.
Além disso, não é só em casa que a criança precisa de incentivo para boas escolhas alimentares. A escola tem um papel importante também nesse contexto. Muitas escolas possuem cantinas e, geralmente, não vendem opções mais leves como sanduíches com salada, sucos naturais ou salada de frutas, mas sim lanches gordurosos e/ou açucarados como pastéis e frituras em geral, bolos, biscoitos recheados e refrigerantes. O ideal é preparar a lancheira da criança em casa para que ela leve e não dar dinheiro para as compras nas cantinas.
Ainda há a opção de se alimentar com a comida oferecida na escola. O estágio que eu comentei mais acima era em uma prefeitura e pude ver de perto como é a alimentação oferecida nas escolas: variada, colorida e com as necessidades para a faixa etária. Pode-se combinar com os filhos de, por exemplo, um dia na semana poderem comprar alguma coisa que gostem na escola. Assim, a alimentação passa a ser mais flexível.
Voltando para o lar, sempre que possível, deixe os filhos participarem do preparo dos alimentos. Faça-os lavarem as mãozinhas e providencie utensílios adequados, como facas sem ponta para evitar machucados. Quando participam da atividade, elas costumam provar e faz bem para a autoestima delas, pois elas pensam "fui eu que fiz". Não é necessário fazer o trivial. Se puder, coloque a criatividade para funcionar! Brinque com os alimentos: faça rostinhos e cabelos com a comida, formatos divertidos, etc.
Com criatividade, os alimentos podem ser muito atrativos |
Lembrando que essas dicas valem para crianças que já são maiores de 6 meses, afinal, até essa idade recomenda-se somente o leite materno, que possui todos os nutrientes que o bebê precisa, além de outros benefícios.
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